A doença de Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa que afeta uma parcela significativa da população, especialmente idosos.
Com o aumento da expectativa de vida, observa-se um crescimento notável na prevalência da DP, tornando-se uma das doenças neurológicas de maior impacto global.
Neste artigo, exploraremos a relação entre a doença de Parkinson, probióticos e, mais especificamente, o papel potencialmente benéfico da kombucha no manejo dessa condição.
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O que é Parkinson?
A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, afetando 2–3% da população com mais de 65 anos.
Este distúrbio progressivo afeta o sistema nervoso central, comprometendo principalmente a coordenação motora e o equilíbrio.
Entender a natureza da DP é crucial para explorar abordagens inovadoras de tratamento.
Quem pode desenvolver a doença?
Embora a DP seja mais prevalente em idosos, não é exclusiva dessa faixa etária.
Fatores genéticos, ambientais e outros ainda não totalmente compreendidos podem contribuir para o desenvolvimento da condição.
É essencial conhecer os grupos de risco para identificar possíveis medidas preventivas.
O que são probióticos?
Antes de abordarmos a relação entre a DP e a kombucha, é vital entender o papel dos probióticos.
Esses microorganismos benéficos, encontrados em alimentos fermentados, desempenham um papel fundamental na saúde intestinal e podem influenciar positivamente vários aspectos do bem-estar.
Probióticos são microorganismos vivos, na maioria das vezes bactérias benéficas, que conferem benefícios à saúde quando consumidos em quantidades adequadas. Esses micróbios favoráveis são semelhantes às bactérias naturalmente presentes no trato gastrointestinal humano.
Quando ingeridos, os probióticos ajudam a equilibrar a flora intestinal, promovendo um ambiente saudável no sistema digestivo.
Os probióticos são comumente encontrados em alimentos fermentados, como iogurte, kefir, chucrute, kimchi e kombucha, bem como em suplementos alimentares.
Acredita-se que esses microorganismos desempenhem um papel crucial na manutenção do equilíbrio entre as bactérias benéficas e prejudiciais no intestino, auxiliando na digestão, fortalecendo o sistema imunológico e contribuindo para a saúde geral do trato gastrointestinal.
Embora os probióticos sejam amplamente associados aos benefícios digestivos, pesquisas sugerem que eles também podem ter impactos positivos em outros aspectos da saúde, como a imunidade, a saúde mental e até mesmo em condições inflamatórias.
Pessoas portadoras de Parkinson podem tomar kombucha?
Agora, adentramos no cerne da questão: a kombucha, uma bebida fermentada rica em probióticos. Será que ela é segura e benéfica para indivíduos com DP? Vamos explorar as evidências científicas disponíveis.
Quais são os benefícios da Kombucha para quem tem Parkinson?
Diversos estudos sugerem que os probióticos presentes na kombucha podem influenciar positivamente o microbioma intestinal, desempenhando um papel crucial na regulação do sistema imunológico. Como estados inflamatórios periféricos têm sido associados à DP, esses benefícios podem ter implicações significativas.
Os probióticos, presentes na Kombucha, emergem como uma abordagem terapêutica eficaz para indivíduos com Parkinson que enfrentam desafios como constipação prolongada e distúrbios do sono, de acordo com as descobertas de um estudo controlado randomizado multicêntrico. O estudo, intitulado “Eficácia da Terapia com Probióticos por Três Meses na Redução de Sintomas Motores e Não Motores da Doença de Parkinson”, foi apresentado durante o Congresso Internacional de Doença de Parkinson e Transtornos do Movimento em Copenhague, Dinamarca, em agosto deste ano.
Qual o melhor probiótico para quem tem Parkinson?
Nem todos os probióticos são iguais. Algumas cepas podem ter efeitos mais benéficos do que outras no contexto da DP. Vamos analisar quais cepas de probióticos podem ser mais indicadas para quem lida com essa condição.
Estudos indicam que determinadas cepas de bactérias reconhecidas como probióticas, como o Lactobacillus acidophilus, apresentam uma redução significativa das citocinas pró-inflamatórias e um aumento das anti-inflamatórias.
Esses achados promissores são oriundos de uma pesquisa realizada com pacientes nos estágios iniciais da doença de Parkinson.
Qual melhor alimento para quem tem Parkinson?
A nutrição desempenha um papel crucial na gestão da DP. Exploraremos quais são os alimentos que fornecem nutrientes essenciais e antioxidantes que auxiliam na saúde cerebral.
Estudos indicam que a incorporação de ácidos graxos provenientes de fontes como salmão e atum, juntamente com a presença de catequinas presentes no chá verde, pode desempenhar um papel protetor contra os efeitos associados à doença de Parkinson (DP).
Destaca-se que o chá verde é particularmente notável por ser uma excelente fonte de polifenóis, oferecendo benefícios quando incluído na alimentação diária.
Recomenda-se também um aumento no consumo de frutas vermelhas, como morangos e amoras, reconhecidas por sua riqueza em polifenóis.
De maneira moderada, o consumo de suco de uva é sugerido, pois está associado a flavonoides e antocianinas, que, por sua vez, têm sido relacionados a um menor risco de mortalidade decorrente da doença.
Entretanto, no que se refere a laticínios como leite, queijos e iogurtes, é crucial exercer moderação, uma vez que o consumo excessivo desses alimentos pode aumentar o risco de sintomas relacionados ao Parkinson.
Por último, para aqueles que fazem uso de medicamentos como a levodopa, é essencial evitar o consumo em jejum ou em intervalos muito próximos às refeições.
A recomendação é ingeri-lo aproximadamente duas horas após a última refeição, favorecendo uma absorção eficiente do composto e minimizando o potencial de náuseas e desconforto.
Alimentos que podem piorar a doença de Parkinson
Além de destacar os alimentos benéficos, é importante conhecer aqueles que podem agravar os sintomas da DP. Evitar certos alimentos pode ser uma estratégia importante no manejo da condição.
Principalmente, é essencial evitar alimentos ricos em carboidratos refinados, amplamente presentes na maioria dos produtos industrializados.
Isso se deve ao fato de que a indústria muitas vezes adiciona uma concentração elevada de açúcar, incluindo os conhecidos “açúcares escondidos”, como maltose, isomaltose e dextrose.
Portanto, é crucial prestar atenção aos rótulos, especialmente em produtos industrializados, como sucos de caixinha.
Mesmo ao considerar sucos de frutas naturais, é importante ter cuidado com a concentração, pois o excesso de frutose pode ser prejudicial, causando picos de insulina.
Além disso, é recomendável evitar frutas muito doces, especialmente durante crises. Carboidratos refinados, como arroz branco, pão e batata, também podem provocar esses picos de insulina.
Outro ponto a ser considerado é que bebidas alcoólicas não devem ser consumidas por pessoas com Mal de Parkinson, uma vez que podem causar desequilíbrios e aumentar os níveis inflamatórios.
Qual a dieta que as pessoas com Parkinson devem adotar?
Considerando todos os elementos abordados, delinearemos uma dieta que integra alimentos promotores da saúde cerebral e do microbioma intestinal, proporcionando suporte adicional para aqueles com DP.
Com base em diversos estudos em indivíduos sem a doença, podemos deduzir várias conclusões importantes:
- É recomendável que a maioria das pessoas vivendo com a doença de Parkinson mantenha uma dieta variada, incluindo grãos, vegetais, frutas e proteínas provenientes de carne de frango, peixe e feijão. Além disso, é essencial incorporar nozes, azeite e ovos na alimentação.
- Uma dieta rica em grãos, vegetais e frutas proporciona vitaminas, minerais, fibras e carboidratos complexos, contribuindo para a redução da ingestão de gordura e a promoção de uma boa saúde.
- É aconselhável limitar a ingestão de açúcar, pois uma dieta com excesso de açúcar pode resultar em muitas calorias e poucos nutrientes.
- Reduzir a ingestão de sal e sódio é crucial para diminuir o risco de hipertensão e problemas cardiovasculares.
- Incluir alimentos ricos em antioxidantes na dieta é fundamental para a saúde geral do cérebro. Isso pode ser alcançado através do consumo de frutas e vegetais de cores vivas e escuras.
Estudos mostram que o consumo vitalício de flavonoides é protetor e pode diminuir o risco de declínio cognitivo.
Bons exemplos de alimentos ricos em flavonoides incluem uva, morango, maçã, mirtilo, jabuticaba, romã, cereja, ameixa, framboesa e outras frutas de coloração vermelha; frutas cítricas, como limão, laranja e tangerina; e vegetais como brócolis, espinafre, couve, alho e cebola.
Além disso, nozes, soja, linhaça e feijão também são fontes relevantes de flavonoides.
Quem tem mal de Parkinson pode tomar leite?
A relação entre produtos lácteos e a DP é uma questão frequente. Vamos analisar se o leite pode ser incluído na dieta de indivíduos com Parkinson ou se é necessário adotar alternativas.
Um estudo divulgado no American Journal of Epidemiology conclui que o consumo diário de laticínios, especialmente leite, está associado a um aumento no risco de desenvolvimento do Mal de Parkinson em homens.
Realizada com uma amostra de 57.689 homens e 73.175 mulheres no período entre 1992 e 2001, a pesquisa revelou que os homens que consumiram produtos lácteos tinham uma probabilidade 60% maior de desenvolver a doença.
Além disso, observou-se que o risco para os homens aumentava proporcionalmente à quantidade de leite ingerida.
Curiosamente, na análise das mulheres, não foi encontrada uma correlação significativa entre o consumo de leite e a incidência da doença.
Embora estudos anteriores já tivessem estabelecido uma relação entre o Mal de Parkinson e o consumo de laticínios, o motivo por trás dessa associação ainda permanece desconhecido.
Fica claro, no entanto, que o cálcio, a vitamina D e a gordura não são os fatores causadores da doença, conforme indicam os resultados.
Microbiota intestinal e a relação com a doença Mal de Parkinson
Com o aumento da acessibilidade às tecnologias de sequenciação de próxima geração (NGS), tem havido uma expansão de estudos que mostram diferenças significativas, embora variáveis, no microbioma intestinal na DP em comparação com controlos sem DP. Estes foram recentemente revistos por Lubomski et al . 16 , 23 , 24.
Curiosamente, diversos estudos utilizando técnicas de análise genética revelaram uma redução significativa de certas bactérias que produzem uma substância chamada butirato nas fezes de pessoas com a doença de Parkinson em comparação com aquelas sem a doença.
Essa descoberta foi respaldada por uma análise específica de genes de síntese de butirato utilizando uma técnica chamada reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real, bem como por um estudo que utilizou cromatografia gasosa para mostrar níveis reduzidos de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), incluindo butirato, acetato e propionato, nas fezes de pacientes com Parkinson em comparação com os controles.
Acredita-se que esses ácidos graxos de cadeia curta desempenhem um papel crucial na comunicação entre a microbiota intestinal, o intestino e o cérebro, influenciando a integridade da barreira que separa o sangue do cérebro, a sobrevivência das células nervosas, as respostas inflamatórias e as comunicações hormonais.
Em particular, o butirato, além de ser um importante combustível para as células do cólon, contribui para melhorar a função da barreira intestinal.
Destaca-se que o butirato também atua como um inibidor de uma proteína chamada histona desacetilase (HDACi).
Estudos experimentais indicaram que o butirato, ao exercer essa função, apresenta efeitos neuroprotetores, incluindo a atenuação dos problemas motores associados à doença de Parkinson e a redução da morte de células nervosas que produzem dopamina, um neurotransmissor essencial.
Essas descobertas destacam a importância do butirato e dos ácidos graxos de cadeia curta na compreensão e potencial tratamento da doença de Parkinson.
Tratamento da Doença de Parkinson: Desafios e Perspectivas
O tratamento da DP é multifacetado e varia de acordo com a progressão da doença e a resposta individual.
Abordagens convencionais, como medicamentos dopaminérgicos e terapias físicas, têm sido fundamentais, mas há uma crescente busca por intervenções complementares.
A inclusão de probióticos, como os encontrados na kombucha, no plano de tratamento mostra-se promissora, pois pode contribuir não apenas para a saúde intestinal, mas também para a modulação de moléculas bioativas que desempenham papéis cruciais no sistema nervoso.
No entanto, é crucial discutir qualquer alteração no tratamento com profissionais de saúde especializados para garantir uma abordagem abrangente e segura para o paciente com DP.
Referência bibliográfica
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